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Foto do escritorAndreas Ufer

Empreender como ato de rebeldia

Como no Sense-Lab apostamos na cultura do diálogo para construir uma organização resiliente e preparada para o futuro

 

I. OITO ANOS DE OUSADIA


Empreender o Sense-Lab há 8 anos foi um ato de ousadia. Foi não só ter a coragem de se jogar em um mercado que não existia, e que teve que ser criado, com produtos e processos que precisaram ser inventados ao longo da jornada, mas também acreditar em uma organização feita pelas pessoas para as pessoas. Foi sonhar grande desde o início, tanto na busca por uma contribuição relevante para melhorar um mundo em desarranjo e acelerada deterioração socioambiental através de processos de diálogo para fortalecer organizações, ecossistema e lideranças transformadoras, quanto no nível de inovação com o qual nos organizamos internamente.




Empreender o Sense-Lab foi e ainda é um ato de rebeldia contra o que é o senso comum sobre a gestão de uma empresa. Nascemos sem - e continuamos não tendo - cargos, departamentos, hierarquias formais ou poder de mando. Nascemos apostando - e continuamos apostando - na descontração, na transparência e na colaboração radical, pautada por conversas francas, para resolver as tensões internas, em uma tentativa de mesclar arte e processos em uma dança de adaptação dinâmica.


Empreender o Sense-Lab continua sendo buscar autenticamente colocar propósito, harmonia financeira e o cuidado com as pessoas no mesmo nível de prioridade. E acreditar que o diálogo, o respeito pela individualidade e as relações genuínas se sobrepõem às estruturas formais.


Até aqui foram 8 anos apoiando as mais diversas organizações e lideranças do campo socioambiental e empresas em busca de impacto, fomentando inovação regenerativa em territórios e cadeias produtivas e dando vida a nossa hipótese inicial de que resolver problemas complexos exige diálogo e envolvimento de diversas perspectivas. E exige sobretudo abrir mão de visões de mundo e convicções através da escuta ativa para buscar o novo.


Ao longo desse tempo fomos entendendo também que para gerar transformação para fora, a arte do diálogo e da escuta começa dentro de casa, na própria organização.


Foram 8 anos de muita tentativa e erro, observação, aprendizado e conversas nem sempre fáceis. Experimentamos, erramos, acertamos e evoluímos. Não foi simples sair da infância de um grupo de pouquíssimas pessoas trabalhando juntas de forma ágil e próxima, para começar a trazer cada vez mais gente para o barco, buscando sempre cultivar os princípios e valores originais da organização.


Foram 8 anos tentando nos manter artistas, enquanto a organização passava por sua adolescência, que trazia novas necessidades e pedia formas diferentes de fazer.


"Toda criança é uma artista. O desafio é permanecer artista quando ela se torna adulta."

- Pablo Picasso


II. UM SONHO SONHADO JUNTO





No final de 2021 saímos do trabalho remoto no Sense-Lab, para aos poucos retomar a rotina do trabalho presencial. Éramos 8 pessoas que tinham conseguido reinventar uma organização que antes da pandemia baseava seus serviços em encontros e dinâmicas presenciais. Depois de uma breve parada completa no fluxo de projetos, havíamos conseguido adaptar processos para o mundo virtual, rompendo barreiras geográficas e começando a entregar projetos que não só atendiam outros países, mas também envolviam pessoas e organizações de diversos continentes dialogando e co-criando através das fronteiras. O Sense-Lab havia se reinventado, ganhado o mundo e era hora de olhar para frente.


Assim como sempre fizemos, juntamos a equipe para sonhar e co-criar o futuro. Imaginamos uma organização que em 5 anos teria impactos ainda mais tangíveis em nossos campos de atuação, que deveria ser mais diversa e inclusiva, com bom equilíbrio de vida para todos os seus participantes. Que tivesse um portfólio de serviços mais diverso e fosse ainda mais global em seus projetos e em sua atuação. Nos propusemos a estar mais inseridos em redes de impacto internacionais e estarmos presentes, eventualmente fisicamente, em outras geografias.


Sobretudo, sonhamos uma organização maior, com mais pessoas vibrando junto, que mantivesse sua cultura e uma vibe boa e que potencializasse os seus membros, respeitando e cuidando de sua individualidade.


Também percebemos que no mundo de hoje, ficar parado não é uma opção. Para todos, no contexto atual, as mudanças são muito rápidas e exigem adaptação. No nosso campo, onde informação e metodologias fluem rapidamente, se reinventar constantemente é um imperativo.


E o que aprendemos ao longo dos anos trabalhando com desenvolvimento organizacional e inovação social é que agilidade, resiliência e a capacidade das organizações se manterem relevantes tem tudo a ver com clareza de propósito, com uma cultura acolhedora, abertura para o mundo e com a forma com a qual as pessoas se relacionam internamente. Tem a ver com criar e manter o espaço para a autonomia e o divergente, e para as pessoas estarem bem.


"O que acontece no início de qualquer processo criativo? Nada! A criatividade exige que criemos espaço e esperemos que algo surja."


Otto Scharmer


III. ENXERGANDO A FLORESTA E NÃO SÓ AS ÁRVORES


Tendo imaginado o futuro, onde intencionamos buscar mais impacto, mais atuação internacional e uma organização maior, mais diversa e mais estruturada, mantendo o seu aspecto dialógico e relacional, e entendendo que a nossa resiliência e capacidade de inovação futura tem tudo a ver com nossa cultura, nos perguntamos se havíamos criado as condições para alçar voos mais altos no futuro próximo.

Já tínhamos um sonho para o futuro e ao longo dos 3 anos anteriores havíamos desenvolvido e evoluído uma teoria de mudança que descreve como intencionamos contribuir para as pessoas e o planeta. Entendemos que o nosso impacto se dá fortalecendo organizações, redes, ecossistemas e lideranças do campo socioambiental através de processos de diálogo em projetos de desenvolvimento organizacional, planejamento estratégico, cultura, articulação de redes, ecossistemas e coalizões.


Havíamos escolhido dois grandes temas: "Clima, Floresta e Sociobiodiversidade" e "Transição para uma Economia e Negócios Regenerativos" como os nossos dois principais campos de atuação. E estávamos cada vez mais inseridos nestes espaços.


Entre 2020 e 2022 também desenvolvemos e amadurecemos o nosso processo de planejamento estratégico, baseado em objetivos que retratam as diferentes dimensões internas e externas da organização, como impactos, resultados financeiros, comunicação, cultura e estrutura.

Nossa intenção, atenção e atuação estavam claras.


Olhando para dentro, nos últimos anos havíamos estruturado também ritos e abordagens mais claros para qualificar, reconhecer e potencializar as pessoas internamente, criamos espaços para discutir e amadurecer a nossa cultura e para compartilhar saberes, e construímos uma governança dinâmica baseada em papéis, acordos e diálogos, reconhecendo níveis de atuação (ou senioridade), mas fugindo sempre que possível de rótulos, hierarquias e cargos.


Mantivemos como princípio basilar a transparência e colaboração radical, com acesso interno completo às informações, incluindo as financeiras como remuneração de todos. A premissa que seguimos é que o motivo para esconder uma informação, como remuneração, é a ausência de argumentos convincentes ou disposição para dialogar sobre ela. E aprendemos, trabalhando com diversas organizações, que inovação e resiliência, vão bem quando andam de mãos dadas com autonomia, um fluxo livre de informações e um forte senso de propósito compartilhado.


Sobretudo, buscamos basear toda a nossa organização em construção de diálogos coletivos e individualizados francos e abertos, mesmo que nem sempre fáceis.



A pergunta que nos fazíamos no inicio de 2022, era se criamos um modelo organizacional que estava pronto para ampliar equipe, transpor geografias, inovar em serviços e escalar.


E tínhamos a impressão que a resposta era sim. Que, ao abraçar ao invés de fugir da complexidade, a nossa cultura dinâmica, descontraída e dialogada nos tornava resilientes e inovadores e estava começando a possibilitar a descentralização e ampliação de competências e entregas em um ramo onde o conhecimento e a vivência pessoal são a chave da nossa proposta de valor.


Tirando o foco das tensões do dia-a-dia e das pequenas preocupações - deixando de olhar a árvore para enxergar a floresta - a sensação era de um enorme potencial latente.

"Aprendemos a reduzir; podemos aprender a ampliar? Aprendemos a controlar; podemos aprender a respeitar? Aprendemos a medir, mas não a apreciar. Aprendemos a planejar e prever; mas será que sabemos habilitar e permitir? Não podemos simplesmente lutar contra o status quo atual a partir dos paradigmas que o informam; devemos deixar ir das nossas convicções e mover adiante."


Allan Kaplan

IV. MAIS GENTE, MAIS REDE, MAIS VIBE BOA


Certo dia em 2022, começamos um dos nossos espaços de aprendizagem interna com uma pergunta que volta e meia re-emerge em nosso trabalho: "O que é uma organização?". Tivemos um mosaico de respostas mostrando que a pergunta não é trivial. A essência de uma organização com certeza não são prédios, móveis e computadores. Parece que uma organização não são máquinas, documentos ou logomarcas.


Uma organização são pessoas se relacionando, interagindo e dialogando. É uma teia conversacional que constitui um organismo vivo em constante transformação. Criamos processos, cargos, logomarcas para organizar e nomear essa teia. Temos prédios e computadores para habilitar o seu trabalho. Mas em sua essência uma organização é gente.


No nosso caso, em uma organização pequena, decidimos ousar mais uma vez ao dobrar a quantidade de pessoas na equipe em menos de 6 meses no início de 2022. Uma organização com novas pessoas é uma nova organização. Em um organismo social com uma cultura e modelo bastante particular como a nossa, novas pessoas, com novas perspectivas, aspirações, dúvidas e potências geram tensão e disrupção. E tensão é um convite para a evolução.


Com isso em 2022, sendo provocados por mais gente e mais potencial, revimos a nossa estrutura, nos separamos em times temáticos e descentralizamos a nossa capacidade de atuação em projetos, delimitando papéis mais claros e focando em impulsionar novas lideranças internas.


Assim, entregamos quase 50 projetos no ano, tanto para parceiros de longa data como a Fundação Grupo Boticário, Sistema B, Instituto Socioambiental, WWF, Imalfora, Idesam, Instituto de Cidadania Empresarial, quanto em novas relações como SOS Mata Atlântica, Opan, Rainforest Foundation e World Cocoa Foundation.


Olhando para a nossa atuação global, seguimos em diversos projetos com o B Lab Global e BMW Foundation e expandimos os horizontes, para Chile, Guatemala e Suíça, iniciando projetos com a Betterfly, Alterna e Oak Foundation. Facilitamos espaços de diálogo e co-construção presencial da Alemanha a Nova Iorque.


Seguimos trabalhando com empresas em programas de gestão de impacto como B Movement Builders, com participação de multinacionais incluindo Danone, Natura, Givaudan e Gerdau, e cultivamos coalizões tanto no campo socioambiental quanto em parceria com empresas como a RaiaDrogasil.


E por fim voltamos a avançar com a capacitação e impulsionamento de pessoas, em formações voltadas para o campo de negócios de impacto e em um novo programa para alavancar lideranças sistêmicas em parceria com a Din4mo.


Tudo isso só foi possível com mais gente, mais atuação em rede e mais vibe boa. Apostamos e colocamos a nossa intenção e atenção em fortalecer a nossa cultura e relações para catalisar a nossa capacidade organizacional e alavancar o nosso potencial de entrega.


"A capacidade organizacional, e a fonte de poder, está nos aspectos invisíveis e intangíveis da organização: na atitude, cultura, entendimento conceitual, coerência estratégica, liderança. Esse é precisamente o motivo pelo qual praticantes sociais são chamados artistas do invisível."


Allan Kaplan



V. OLHANDO PARA O FUTURO


Assim, chegamos em 2023 tendo passado pela internacionalização dos nosso portfólio de projetos, pelo amadurecimento dos nossos processos e abordagens, consolidação da nossa inserção nos campos de clima, florestas, sociobiodiversidade e das novas economias. Começamos o ano acolhendo mais 4 novas pessoas e reforçando a convicção na potência da nossa cultura e forma de fazer em uma organização ao mesmo tempo humanizada e capaz de entregar coisas incríveis.


Entramos em 2023 já agitados e inquietos, com um portfólio intenso de projetos dentro e fora do país e muitos outros chegando. Seguimos agitando internamente, questionando, reordenando, reinventando, conversando e nos mexendo.


E o que vem pela frente?


O que podemos esperar do futuro da organização? Eu particularmente espero que o Sense-Lab seja tudo aquilo que ele pode ser. Que continuemos perguntando "por que não?". Espero que ele continue sendo feito por ainda mais pessoas para as próprias pessoas. Espero que propósito, efetividade e boas risadas andem juntos, pois é isso que faz com que a jornada valha a pena. E que sigamos em frente, sonhando, impactando, curtindo, aprendendo e nos reinventando.


"Uma organização que aprende é uma organização que está continuamente expandindo sua capacidade de criar seu futuro."


Peter Senge

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