Você já notou quantos momentos de intolerância e falta de empatia podemos notar no trânsito?
Desde o apressado que, só pensando nele, quis aproveitar aquele último segundo do semáforo, agora bloqueando o cruzamento, ao agora bloqueado, buzinando freneticamente, xingando e com raiva do folgado a frente sem pensar o que pode ter levado o deslize de seu novo “amigo” ou se a sua buzina pode estar incomodando o carro ao lado, que justamente hoje está levando alguém ao hospital.
Cada vez é mais comum, ao entrarmos no carro e formarmos o trânsito, criarmos o nosso próprio mundo com as nossas regras, ignorando aos demais.
Eis que nesse mar de introspecção e individualismo surge um fenômeno que quebra as fibras de nosso escudo egocêntrico: a porta entreaberta de outro motorista desavisado! Sim, aquela porta mal fechada que o motorista ou passageiro não bateu com a força suficiente para fechá-la por completo, mas que também não é perceptível por dentro, incapaz de causar grandes danos ou potenciais acidentes mas capaz de gerar uma vontade de ajudar o seu vulnerável companheiro instantâneo de trajeto.
Então você arruma seu jeito, buzina, faz sinal, acelera; você tenta entrar no campo de visão do outro motorista e com naturalidade, até então ignorada para talvez um bom dia ou troca de sorrisos, diz: Ei sua porta está aberta!
Do outro lado, um obrigado é respondido, o problema logo resolvido, na maioria das vezes um sorriso é esboçado e um sentimento interno bom é gerado, mesmo que por alguns milissegundos, pois o sentimento de se sentir cuidado por alguma demonstração de ajuda libera em nosso organismo entre outras substâncias, a ocitocina, uma das responsáveis pela nossa sensação de satisfação.
É surpreendente imaginar que uma porta entreaberta faz você gerar micro-momentos de alegria a alguém, faz você exercer seu papel de cidadão que zela pelo bem do meio em que vive e é deliciosa a observação que algo tão pequeno pode ser tão grandioso.
Pelo lado menos alegre, é também surpreendente que são tão poucas as ocasiões que nos permitimos ajudar um desconhecido no trânsito, que apenas uma porta entreaberta nos faz falar cordialmente com o próximo, o qual também adora um sorriso, um “boa tarde” ou o silêncio da sua “não-buzina’ pois também teve um dia estressante e está louco para chegar em casa.
Quantas portas entreabertas você viu hoje?
Quantas oportunidade você teve hoje para lançar um olhar mais cuidadoso com alguma pessoa da sua comunidade?
Quantas oportunidades de fazer alguma pessoa sorrir você não aproveitou hoje?
A sustentabilidade é alicerçada pelo conceito de interdependência sistêmica e equilíbrio entre cada um dos elementos do meio e assim a harmonia de nossas relações em comunidade é parte fundamental dela. Portanto, fica aqui a provocação: Você é capaz de ver mais portas entreabertas? Você é capaz de ver mais que portas entreabertas?
Publicado originalmente em www.reconectta.com em 15 de julho de 2015.
Douglas Giglioti
Coach e cofundador da Reconectta, é um engenheiro pós-graduando em Neurociências. Viciado em pessoas e sorrisos. Não gosta de se auto-descrever em mini-bios.